Crise: para alguns, ótimo negócio

Crise: para alguns, ótimo negócio

Outro dia lendo uma noticia da coluna policial, um amigo meu, leitor acostumado com a imensa marginália que é estampada diariamente nessas páginas, ficou petrificado quando soube que a policia desbaratou uma quadrilha que estava abrindo “contas frias” na rede bancária para receber doações às vitimas das enchentes de Santa Catarina. Um gesto “humanitário” em seu próprio benefício é claro, pois que iria resolver apenas os seus problemas de dinheiro. “As vitimas, danem-se”: disse um dos meliantes ao ser preso. O fato é que já estavam com a estrutura pronta para ampliar seu raio de ação, pois é mais do que sabido que as chuvas de verão anualmente fazem tantas vitimas em outros estados como neste ano em Santa Catarina.

 Isso já está acontecendo com os fluminenses e capixabas.

As tais contas bancárias são o mais puro e deslavado caso de estelionato e teve o desfecho merecido. Os criminosos já estão presos. Se vão ser condenados ou não, aí é outra conversa.

Mas tudo isso não é muito diferente daquilo que já vem sendo perpetrado por pessoas e empresas de diversos segmentos de mercado, em nível nacional, estimulando e capitalizando a seu favor, uma onda de informações sobre uma possível crise que já começa a dizimar a economia de alguns países, que não vamos citar aqui seus nomes, mas que sabemos, viveram basicamente de especulação financeira o tempo todo, o que, felizmente, não é o nosso caso.

Mas aqui entre nós, já tem alguns empresários de vários setores, se é que podem ser tratados com esse titulo, donos de empresas que estão tirando vantagens e benefícios de uma crise que ainda não chegou até as nossas portas e, se chegou, não foi da forma exagerada que esses facínoras estão lhe atribuindo e se utilizando, para, repito, tirarem vantagens.

cifrão2Na área de prestação de serviços de comunicação, propaganda e marketing e outras, consideradas ferramentas fundamentais no apoio às vendas, por exemplo, já têm alguns, felizmente poucos, clientes pressionando seus prestadores de serviços para baixarem os preços de seu trabalho. É a crise, é a crise, dizem, para justificar certas ações, clientes que vem operando à base de um fee espúrio, negociado ontem a seu favor, e que hoje estão propondo reduzir ainda mais o valor do tal fee, um crime que se for consumado, vai tornar esse fee mensal ainda mais espúrio e a rentabilidade da empresa que lhe presta serviços de tão grande importância, vai para o ralo.

E o que é mais grave é que, tanto o contratado como o contratante, sabem que quanto mais os preços de um trabalho são vilipendiados, menor é a possibilidade de se contar com serviços de qualidade em quaisquer áreas da atividade humana.

Este é apenas um simples exemplo do que já está acontecendo entre nós aqui no Brasil. Só espero que nos sirva como uma reflexão, porque se mesmo com a crise ainda não instalada, já tem gente fazendo isso, se ela se instalar, o que eu não acredito, vai ser mais grave, porque, quem der muito hoje, não vai ter o que dar amanhã e aí ninguém vai vender mais. Vai sim é vender menos. Muito menos.

Sobre o Autor

Humberto Alves Mendes é publicitário e atua no ramo há mais de 50 anos, tendo trabalhado em agências como Rino e Caio e DPZ. Atualmente, é Vice-Presidente Executivo da Federação Nacional das Agências de Propaganda (Fenapro).

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