Zona de Conforto

Zona de Conforto

Quantas vezes você sentiu a necessidade de mudar algo muito importante em sua vida e desistiu no último instante, dando ouvidos a uma voz que intimamente parecia lhe dizer:

 – Se eu arriscar e der errado, depois vou ficar aí sofrendo pelos cantos!

Isto é instintivo, faz parte da natureza humana como uma estratégia de sobrevivência. Afinal, onde o medo está incutido, a vida está preservada, pois se não corrermos riscos, estaremos bem. Certo? Talvez. Fomos criados como compradores de crenças alheias. Ao longo de nossa infância escutamos os adultos, referências máximas de nossa confiança, nos dizer:

 – Em time que está ganhando não se mexe!

– Você nunca pode trocar o certo pelo duvidoso!

– Não deu certo porque não era pra ser seu mesmo!

As mais diversas crenças e comportamentos dos adultos ajudaram a formar nosso sistema de crenças próprio e, evidentemente, não falamos aqui daquelas de fundo religioso, mas sim das referências de limitação ou superação que nos levam a tomar decisões em nossas vidas, as quais, em muitas ocasiões, nos levam a nos arrepender lá adiante, sem ter como sabê-lo hoje. Em suma, passamos boa parte de nossas vidas fazendo escolhas cujo teor nos remete ao sistema de crenças formado ao longo de nossa vida, com grande foco na infância.

Vamos exemplificar. Carlos é vendedor numa empresa que distribui materiais de segurança. Ele está no ramo há dez anos e tem um salário médio, considerando ganhos fixos e comissões sobre as vendas, de aproximadamente cinco salários mínimos. Um dia, um amigo sugere a Carlos que ele tem potencial para ganhos muito maiores e, portanto, seria interessante que disponibilizasse seu currículo ao mercado. Ele o faz. Três meses depois, o líder de RH de um grande fabricante de materiais de segurança se depara com o perfil profissional de Carlos e pensa: “eis aqui o vendedor que preenche todos os critérios de nossa empresa”. Entra em contato, explica que foi selecionado por conta de seu perfil, diz que tem uma vaga disponível com possibilidades de remuneração de dez salários mínimos e o convida para uma entrevista. Carlos aceita o bate-papo e nasce aqui o flerte do mundo dos negócios, uma forma de paquera quase tão antiga quanto a tradicional que conhecemos.

Durante a bateria de dinâmicas de grupo, atividades diversas, entrevistas com o gerente de RH e com o gerente comercial, a empresa explica para Carlos que a diferença básica entre os dois empregadores é a seguinte: o atual empregador de Carlos é distribuidor e a empresa que lhe propõe emprego é a fabricante do produto. Ou seja, de acordo com as intenções do novo e possível contratante, Carlos passaria a atender não exatamente o consumidor final do produto, como o faz hoje, mas sim o canal de distribuidores e revendedores. Carlos, então, pergunta:

– Mas a empresa na qual eu trabalho hoje passará a ser cliente na minha carteira de atendimento?

O empregador lhe responde gentil e categoricamente:

– Não! Por questões de ética, você atenderá a outros revendedores e distribuidores, que atuam em áreas completamente diferentes da empresa na qual você está atuando atualmente.

Olhando fixamente nos olhos de Carlos, o gerente de RH finaliza da seguinte forma:

– Estamos encerrando hoje o processo seletivo, Carlos. São mais de vinte candidatos para uma única vaga e você é o candidato pelo qual nós temos o maior interesse. Peço que vá para casa, converse com a sua esposa e amanhã na primeira hora entraremos em contato contigo. Se for interessante começar um projeto conosco, você se desligará do atual emprego e começará suas atividades na próxima semana. Pense com carinho em seu futuro. Amanhã voltaremos a conversar.

Carlos deixa a sala de seu entrevistador confuso. Os ganhos representam o dobro em relação ao que atinge atuando na empresa na qual é vendedor há dez anos.

Neste momento, senhoras e senhores, um verdadeiro filme passa pela cabeça do profissional e um dilema se estabelece. Neste filme, parte da infância surge em pequenos flashs. Uma parte lógica de Carlos (zona de conforto) quer continuar a fazer o que está fazendo, pois entende que a remuneração atual, embora muito menor, é segura. Além disso, é lá que estão os amigos, as pessoas que fazem parte de sua vida, de sua realidade. É para ir a esta empresa que Carlos acorda diariamente, é por ela que dá o melhor de si. Além disso, ele pensa ainda numa “verdade dramática”: tudo aquilo que conquistou nos últimos dez anos, ele “deve” àquela empresa e sua partida para outro trabalho será talvez uma espécie de traição.

Apenas para desmistificar, quando o assunto é emprego, ninguém no mundo dos negócios deve nada a ninguém, uma crença que herdamos de nossos avós. A mão-de-obra é remunerada e, na outra ponta, a empresa recebe seu potencial, sua arte em fazer o melhor possível. Ambos pagam-se periodicamente, não existindo qualquer dívida. Quando algo não está evoluindo, a empresa demite ou o funcionário se demite.

Voltando ao nosso personagem, movido ainda por seu raciocínio lógico, que funciona como um arquivo da zona de conforto, Carlos vai resgatar momentos da infância, de quando seus pais ou os adultos mais próximos lhe diziam gritando “NÃO FAÇA ISSO”, o que não escutava na época, e acabava lhe rendendo uma boa surra, um castigo, um constrangimento ou simplesmente um resultado indesejado.

Já as emoções de Carlos lhe apresentarão possibilidades que, embora naquele momento ainda sejam utópicas, pois ainda não existem, são muito aprazíveis de se pensar. Carlos se verá imaginando um futuro mais próspero, no qual atuará com mais liberdade, poder e felicidade, seja financeira ou emocional. Suas emoções também lhe convidarão a imaginar como seria a vida tendo mais dinheiro para investir na família, no lazer e em si mesmo. Aquela faculdade que quer para seu filho, aquela casa maior, aquela viagem que nunca conseguiu fazer.

O que você faria no lugar de Carlos? Mudaria completamente sua vida e enfrentaria as dificuldades deste doloroso processo de ousar ou permaneceria no mesmo emprego, com a tranquilidade de sempre?

Esta dúvida existiu e existirá sempre. Charles Darwin teve receio de ser severamente punido ao apresentar a Teoria da Seleção Natural e optou por compartilhar informações somente com amigos próximos, até que pudesse reunir provas capazes de sobrepujar os argumentos da comunidade científica da época, que era em grande parte contrária às suas teorias. Por outro lado, jamais desistiu, embora pudesse ter optado pela zona de conforto.

Senor Abravanel, nosso conhecido Sílvio Santos, ainda muito jovem aprendeu com um domador de circo que o público é como uma fera: se tiver medo dele, será devorado. Sílvio encarou suas feras, conquistou milhões de admiradores e construiu um verdadeiro império na área de comunicação, cosméticos e entretenimento.

Ora, Darwin e Sílvio têm no mínimo este ponto em comum. Em dado momento, eles abandonaram suas zonas de conforto e encararam o público, os familiares, os amigos e quaisquer pessoas que surgissem pelo caminho. O motivo era muito simples: no momento da decisão, a determinação para realizar era muito superior ao medo de mudar.

E quanto ao nosso amigo Carlos, cujo exemplo foi citado aqui? Qual seria a decisão certa?

Aquela que ele quiser. O objetivo deste artigo não é promover os leitores ao status de “juízes” da vida de ninguém. A ideia é convidá-los a refletir, para que entendam que cada um de nós, sem exceção, já passou pela mesma situação de Carlos. Duas perguntas ficarão aguardando a sua resposta:

– No passado remoto ou recente, quando você passou por uma situação semelhante, o que fez?

– E hoje, amanhã ou depois, quando algo assim lhe acontecer, o que irá fazer?

Como sempre, a escolha é apenas sua!

Sobre o Autor

Edilson Menezes atua há 20 anos em vendas, ministra treinamento e consultoria com PNL para profissionais e empresas de diversos setores através da Arte & Sucesso Desenvolvimento Humano: www.arteesucesso.com.br – email:edilson@arteesucesso.com.br

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