Web 2.0 e o mundo corporativo

Web 2.0 e o mundo corporativo

As redes sociais são um fenômeno recente na Internet e têm como premissa a interatividade e a conectividade entre os usuários de uma forma mais intensa e profunda do que era feito anteriormente. De uma hora para outra surgiram enormes comunidades como Orkut, Facebook, Twitter, Plaxo ou Linkedin. A impressão que temos quando nos cadastramos nestes sites é que todas as pessoas já estavam lá fazendo parte deles. O que nos impressiona é a velocidade com que se alastram, da mesma forma que o marketing viral, fazendo com que um site pequeno criado por um gênio da computação do Vale do Silício vire um negócio avaliado em bilhões de dólares da noite para o dia, como aconteceu com o YouTube ou Skype.

O que está por trás deste fenômeno é a necessidade das pessoas trocarem informações e se comunicarem de uma forma muito mais ampla e em tempo real. Antigamente (e não estou falando de tanto tempo atrás assim, somente 15 anos) era difícil conseguir informações sobre ex-colegas de escola, para onde tinham ido, qual carreira tinham seguido ou onde estariam morando. Hoje, é possível pesquisar em diversas comunidades virtuais o destino de cada um deles, seus hobbies ou se resolveram se mudar para o interior para criar seus filhos.

O que evoluiu rapidamente para comunidades de música (Myspace), amigos (Orkut e Facebook) também começou a surgir e ganhar força no mundo corporativo, ganhando adeptos não somente entre os mais jovens, mas também entre os internautas com mais de 50 anos. Um dos maiores sites com informações sobre executivos que surgiu neste contexto foi o Linkedin, que possui hoje mais de 30 milhões de usuários. A grande sacada da empresa foi organizar e estruturar o processo de networking que já era feito há muito tempo pelas pessoas. Antes da Internet, os executivos trocavam cartões de visita entre si, faziam telefonemas e se reuniam periodicamente para falar sobre informações do mercado, indicar conhecidos para vagas abertas em empresas, contratar serviços ou para pedir opinião sobre decisões-chave. Todas estas atividades são importantes e continuam, é claro, a ser feitas hoje em dia. No entanto, o que o Linkedin trouxe de inovação foi estruturar o processo e disponibilizar uma ferramenta online de acesso a informações que são atualizadas constantemente, o que é uma grande vantagem versus os velhos cartões de visita. Como eles próprios dizem em seu site (em uma tradução livre): “Nossa missão é ajudá-lo a ser mais eficiente no seu trabalho diário e abrir portas para oportunidades utilizando as relações profissionais que você já tem. Isto não é networking – é o que networking deveria ser”.

O primeiro passo, ao se cadastrar na ferramenta, é criar seu perfil com dados sobre seus últimos empregos, habilidades, realizações e formação acadêmica. Esta primeira parte é importante para mostrar quem você é e por onde passou, exatamente como é feito quando se preenche um currículo. A vantagem é que as suas informações podem ser sempre atualizadas para serem acessadas por outros profissionais ou por headhunters.

O segundo passo é pedir recomendações de ex-colegas de trabalho, tenham sido eles chefes, pares, subordinados ou fornecedores. Esta é uma funcionalidade típica de Web 2.0 na qual as pessoas deixam sua opinião sobre o executivo, ajudando às pessoas que acessam seu perfil a conhecerem um pouco mais dele. É claro que ninguém irá falar mal de um ex-colega publicamente e pela Internet, mas as recomendações são interessantes para mostrar que existem diversas pessoas que podem dar exemplos concretos sobre como era o relacionamento com o executivo e, afinal, é melhor ter conhecidos falando bem sobre você do que ninguém. Além disso, as empresas que recrutam por meio do Linkedin acabam preferindo aqueles que tenham recomendações, do que os que não possuem, no seu perfil profissional.

Dica: é possível editar o endereço do seu perfil público no Linkedin. A vantagem é que ficará mais fácil encontrá-la na Internet e divulgá-la em um cartão de visitas, por exemplo. Portanto, é melhor procurar o perfil de http://www.linkedin.com/in/antoniopedro (meu perfil no Linkedin) do que http://www.linkedin.com/in/12345676oBd234 (o que me lembra como eram os endereços do Geocities).

Uma vez colocadas as informações profissionais e também recebidas as recomendações, o próximo passo, e mais importante, será montar sua rede de relacionamento, procurando pessoas que tenham trabalhado com você, amigos, clientes, fornecedores ou conhecidos. Para isso, o Linkedin possui uma ferramenta de busca interessante, na qual é possível procurar todas as pessoas de uma determinada empresa, função ou região geográfica.

A busca torna-se extremamente útil para se criar um networking consistente e resgatar antigos contatos que estavam perdidos. Além disso, ela pode ser ainda mais útil para aqueles que estão em fase de transição de carreira e buscam uma recolocação, para os que querem aumentar seu networking ou ainda para os que procuram clientes potenciais (caso dos consultores e prestadores de serviço).  Quando se procura uma pessoa, nos resultados da busca é possível identificar qual é o nível de relacionamento que se tem com ela; ou seja, se ela é de primeira geração (ou primeiro nível), segunda, terceira etc. As gerações indicam o grau de conhecimento com relação a uma pessoa: as que estão na primeira são aquelas que você conhece, os da segundo são os amigos dos seus amigos e assim por diante.

Este conceito é importante porque ajuda na prospecção de um cliente ou um futuro empregador, por exemplo. O Linkedin mostra em qual geração esta pessoa está em relação a você e também mostra quem dos seus contatos está conectado a ela. Se eu quiser falar, digamos, com um Diretor de Marketing do Google, seja para vender serviços, trocar informações ou prospectar oportunidades de trabalho, posso pesquisar quem da minha rede conhece pessoas na área de marketing do Google e que poderia apresentá-lo. Ou seja, o Linkedin organiza o processo de networking e o deixa visível, o que antes não era possível. É interessante notar também que, quanto maior for sua rede, mais pessoas estarão conectadas a você e maiores serão as chances de entrar em contato com potenciais clientes e empregadores.

O Linkedin ainda disponibiliza outras ferramentas:

Grupos: é possível criar o grupo de sua empresa, universidade ou assuntos de interesse (como Web 2.0, por exemplo).

Apresentação: esta é uma função interessante na qual é possível pedir aos seus conhecidos que o apresentem a pessoas de segunda ou terceira geração via web, o que será mais eficaz do que tentar uma abordagem direta.

Aplicativos: o Linkedin disponibiliza diversas opções, como apresentações de slides online, lista de livros que você está lendo atualmente, enquetes, conectividade com blogs, entre outros.

Além do Linkedin, o Plaxo também é outro site voltado para executivos, mas com muito menos funcionalidades. Na realidade, ele surgiu com o intuito de ser uma agenda online de contatos (que se manteria sempre atualizada pelos usuários) com informações como e-mail, telefone, data de aniversário e experiência profissional.

Porém, devido a seu escopo mais limitado, a ferramenta passou a ser menos considerada do que o Linkedin para conectar executivos, apesar de ter uma enorme quantidade de usuários, em torno de 40 milhões. Uma de suas funcionalidades, que ainda não foi copiada e que é interessante, é um lembrete de aniversário que é enviado para seu email com a opção de envio de um cartão eletrônico.

Glassdoor

Outra ferramenta de Web 2.0 para o mundo corporativo que surgiu recentemente foi o Glassdoor. Seu objetivo é divulgar, de forma gratuita e anônima, opiniões, avaliações e valor dos salários de empresas. A idéia é que as pessoas mais isentas para falarem a verdade sobre o que acontece no ambiente de trabalho são os próprios funcionários.

No site, é possível ler os comentários feitos por atuais ou ex-empregados sobre uma determinada empresa, sendo que cada mensagem contém prós e contras de se trabalhar lá, além de uma nota geral e por categoria (carreira, benefícios, comunicação, balanço entre trabalho e vida pessoal, entre outros). Estas informações são bastante úteis para poder ter uma visão interna do que ocorre nestas empresas antes de aceitar uma proposta de emprego, por exemplo. Além disso, também é útil para os próprios empregadores, que terão acesso a uma avaliação interna sobre o que realmente motiva ou não seus funcionários.

Para poder contribuir com o Glassdoor, é necessário, primeiro, publicar uma avaliação ou salário para somente depois ter acesso ao que os demais usuários cadastraram. Obviamente, o objetivo disso é aumentar a quantidade de cadastros e aproveitar a interatividade e o compartilhamento de informações entre os internautas.

Outra ferramenta interessante são os dados de salários e benefícios colocados pelos usuários. É possível ver, e de forma gráfica, quais são as faixas salariais para diversos cargos dentro de uma empresa específica. O que antes estava restrito aos departamentos de RH, agora está disponível para todos na Internet.

No entanto, como o Glassdoor é um site norte-americano, muitas informações acabam servindo apenas de referência para nós brasileiros. O clima interno e os salários podem ser bastante diferentes para cada uma das filiais de uma multinacional e empresas brasileiras ainda têm uma presença tímida no site.

De qualquer forma, o Glassdoor é um site bastante inovador no mercado, mas que mesmo estando no seu começo, já traz informações relevantes tanto para funcionários quanto para empregadores, de forma transparente e pública.

Alludere

No Brasil, algumas iniciativas surgiram na mesma onda de ferramentas Web 2.0 para o mercado corporativo. Uma delas é o site Alludere, que estimula as pessoas a indicarem executivos para vagas que estejam publicadas no seu site.

Pensando somente neste aspecto, não seria uma iniciativa inovadora, já que milhares de headhunters e empresas de recrutamento já fazem o mesmo, mesmo que não seja pela Internet. No entanto, a novidade que o Alludere traz é recompensar as pessoas por ter indicado um candidato que seja contratado pela empresa anunciante. Já para a empresa que publica a vaga,a  vantagem é que sairá mais barato contratar os serviços do Alludere do que os de um headhunter. Segundo o próprio site, “a inovação do Alludere é incentivar e remunerar as pessoas que usam seu networking de maneira eficaz”.

O modelo de negócio é simples e basta acessar a página, cadastrar-se e começar a indicar pessoas para as vagas publicadas. O único porém é que, como o site está há pouco tempo no ar, não há muitas vagas cadastradas ainda.

Web 2.0: Novas Possibilidades

Como vimos, a Web 2.0 também chegou para os executivos e para o mercado corporativo. Iniciativas como o Linkedin, Glassdoor, Plaxo e Alludere são alguns exemplos de ferramentas interessantes que podem ser utilizadas principalmente para se fazer um uso mais eficaz e estruturado do networking.

Não prestar atenção nestes sites é ficar de fora de diversas novas possibilidades que poderão surgir no mercado. Utilizando-as da melhor forma é possível prospectar novos negócios, empregos, clientes, candidatos, pesquisar salários e manter ativa e atualizada a sua rede de contatos.

Sobre o Autor

Antonio Pedro Alves é formado em administração pela FGV, com MBA em Marketing pela FIA-USP, além de diversas especializações, inclusive na HEC, na França. Atuou em diversas multinacionais, na venda direta, na indústria e no varejo, entre elas o Grupo Pão de Açúcar, Wal-Mart, Reckitt Benckiser e Avon. É executivo de marketing, palestrante e consultor.

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